segunda-feira, 29 de agosto de 2011

29 / 08 / 2011

Caleidoscópio


Me pergunto em que esquina

se perdem os encontros

aquela fração de completude em que

se desdobram nossas delicadezas...


Em que mosaico infecundo

deixam-se esquecidos

o corpo de tudo o que somos?

Em qual vil ilusão

recolhem-se olhares antes submersos?


Me pergunto como ainda posso ver-te

se te encontro no passado

Se hoje teus olhos refletem o espectro

do que fui quando ainda fazia sentido


Uma tórrida ignorância

adorna e entorpece razões cabíveis

que não sabem precisar em qual esfera

se desintegram os instantes em que

a finitude é esquecida...


É apenas a tenaz indagação

quem preenche a razão tangenciada no escuro:

Será o tempo o destinatário da alma

ou a alma se desconhece em tempos?


Elisa Gaivota


6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. A primeira vez que li esse poema, vi a delicadeza das palavras que se tornam imagem. Quando agora vejo palavras e imagem, Manoel de Barros me vem à mente:

    - Imagens são palavras que nos faltaram.
    - Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
    - Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.

    (Em RETRATO QUE SE PODE VER PERFEITAMENTE NADA de "O GUARDADOR DE ÁGUAS")

    O corpo de tudo que somos tem tantas formas de (i)materialização, e o lirismo de sua poesia/imagem me dá um dos mais belos sentidos.
    Na mágica de seu Caleidoscópio, vejo ser o tempo o destinatário da alma ao mesmo tempo que a alma se desconhece e se desencontra para o perfeito enlace do encontro necessário, esperado e cultivado num tempo livre de temporalidades.
    E mais Barros porque sua poesia é competente para dálias, lírios, orquídias, rosas...

    IV
    No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
    escrito:
    Poesia é quando a tarde está competente para
    Dálias.
    É quando
    Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
    Quando o homem faz sua primeira lagartixa
    É quando um trevo assume a noite
    E um sapo engole as auroras

    (Em UMA DIDÁICA DA INVENÇÃO do "LIVRO DAS IGNORANÇÃS")

    Beijos,

    Vanessa Martins.

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  3. "Sol fazia
    Só não fazia sentido" Paulo Leminsky

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  4. Alguns encontros casuais tendem a ser tão duradouros que chegamos a duvidar da casualidade. Mesmo assim, suas perguntas permanecem sem resposta...
    Que tal um livro de arte, com seus fotopoemas, onde cada palavra vale mais que mil imagens?
    E no entanto, quando voltarmos para a foto contemplada, num lampejo de sentido, nos sentiremos melhor do que éramos há um minuto. Será tudo ilusão?
    Já vivo sonhando acordado.
    Sem falar do teu sorriso! Beijo de um fã.
    Henrique

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  5. Muito obrigada pelo carinho Henrique...
    Gabi, sempre com poucas palavras sintetiza em entrelinhas os sentidos e sentimentos...
    Vanessa, seu comentário é tão profundo que em poucas palavras não poderia retribuí-lo... fica o meu agradecimento pelo carinho de lerem os rascunhos, ou melhor as raízes dos meus momentos... um beijo enorme para vocês.

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  6. Elisa querida, sei que a rima é barata, mas esse poema tem mesmo uma delicadeza que só a verdadeira grandeza concede. Ler seus poemas é entrar num lindo labirinto de palavras e não e importar onde vc vai sair, pq sempre vamos sair melhores. Pra mim o mais importante de tudo é que esses encontros mesmo efêmeros, podendo ou não ser eternos, ACONTECEM.
    Sem mais palavras minha amiga, espero um encontro próximo pra desobrarmos nossas delicadezas numa mesa de bar.
    Parabéns!
    Beijos!!

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