terça-feira, 18 de setembro de 2012

18/ 09/ 2012



Presente
 
Quando o piano chora em tom menor
Degela a solidão fria
A passagem das horas...
E o silêncio arde a sobrevida do tempo
Como carente de tê-lo só para si
Como ausente em tê-lo fugaz
Como ansiando por não tê-lo
Ele, o vilão da existência
O grande Deus em potencial
Alquimista de aparências e sensibilidades
O tempo
Feito mão de criança, acorda
O peito dormente suspenso em perdas
Suaviza a razão moldada em lutas
Aquece pés feridos de ilusão
Como fruto que já não pertence a flor
Traz seu reverso
Em forma de encontro
O canto de uma nova dimensão
Onde os minutos se distraem
Em cirandas coloridas, em segundos dançantes
Onde repousa o passado, ancião da história
Onde brinca o futuro, pesadelo dos românticos
Onde só reside o presente e a dádiva.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012


Fuga

Quando acho que te esqueço

e me percebo em busca do que

de ti, se distancia

mais sei que é de mim

que me escondo e que

tudo o que há de ti

em mim, é poesia

Quando sigo negando

em tudo um apreço

sei que é da linha

do meu desapego que teço

em todo momento

a colcha macia onde

repousa teu sorriso

meu sossego

E se tinjo de preto e branco

tua verdade

com o cinza indiferente

dos olhos meus

é por não suportar o peso

da candura dos teus

Se me vires jogando águas ao mar

na vã tentativa de acrescentar algo

ao que é simples

Não te espantes...

É que mal posso ouvir beleza

que já te componho em harmonias

e cadências de tua fala

mansa e doce

que não deixam de pronunciar,

meus ouvidos, acostumados

ao descompasso do teu tempo

São os contornos límpidos

de tua pele

que amassam meus rascunhos

e o sabor inefável dos teus lábios

a razão do meu sacrifício

É a sombra dos detalhes teus

projetada em tua ausência constante

que fazem da minha vontade,

a derradeira

e dos meus dias

uma contagem de horas

Feito girassol girando

em teu rumo

mesmo que em órbita oposta

fingindo, em minhas mãos, estarem

as rédeas do sol

quando é apenas um novo ciclo

o que procuro

o que nos sopre

num mesmo encontro.


Elisa Gaivota