segunda-feira, 29 de agosto de 2011

29 / 08 / 2011

Caleidoscópio


Me pergunto em que esquina

se perdem os encontros

aquela fração de completude em que

se desdobram nossas delicadezas...


Em que mosaico infecundo

deixam-se esquecidos

o corpo de tudo o que somos?

Em qual vil ilusão

recolhem-se olhares antes submersos?


Me pergunto como ainda posso ver-te

se te encontro no passado

Se hoje teus olhos refletem o espectro

do que fui quando ainda fazia sentido


Uma tórrida ignorância

adorna e entorpece razões cabíveis

que não sabem precisar em qual esfera

se desintegram os instantes em que

a finitude é esquecida...


É apenas a tenaz indagação

quem preenche a razão tangenciada no escuro:

Será o tempo o destinatário da alma

ou a alma se desconhece em tempos?


Elisa Gaivota


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

11/08/2011


Desenlace


A nau parte com o corpo

A alma, ainda ancorada ao porto

Clama a uma só voz o seu retorno

Mas o que se ouve permanece calado


O corpo pálido então permanece e segue

Recipiente que é de um horizonte insólito

Onde o norte se transmuta em tempo

De uma quimera plantada em solo inóspito


Atenta, a alma se lança ao mar

dança ao sabor das águas em direção ao corpo

a nau: o corpo olhando o vento

a alma olhando o porto só


O porto já se parece ponto

O ponto permanece porto

E a permanência dura apenas

Até onde a alma a vê.


Elisa Gaivota