sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012


Fuga

Quando acho que te esqueço

e me percebo em busca do que

de ti, se distancia

mais sei que é de mim

que me escondo e que

tudo o que há de ti

em mim, é poesia

Quando sigo negando

em tudo um apreço

sei que é da linha

do meu desapego que teço

em todo momento

a colcha macia onde

repousa teu sorriso

meu sossego

E se tinjo de preto e branco

tua verdade

com o cinza indiferente

dos olhos meus

é por não suportar o peso

da candura dos teus

Se me vires jogando águas ao mar

na vã tentativa de acrescentar algo

ao que é simples

Não te espantes...

É que mal posso ouvir beleza

que já te componho em harmonias

e cadências de tua fala

mansa e doce

que não deixam de pronunciar,

meus ouvidos, acostumados

ao descompasso do teu tempo

São os contornos límpidos

de tua pele

que amassam meus rascunhos

e o sabor inefável dos teus lábios

a razão do meu sacrifício

É a sombra dos detalhes teus

projetada em tua ausência constante

que fazem da minha vontade,

a derradeira

e dos meus dias

uma contagem de horas

Feito girassol girando

em teu rumo

mesmo que em órbita oposta

fingindo, em minhas mãos, estarem

as rédeas do sol

quando é apenas um novo ciclo

o que procuro

o que nos sopre

num mesmo encontro.


Elisa Gaivota